Silêncio raro de voar
O silêncio mais raro é aquele plantado pelas próprias mãos - um jardim suspenso onde a consciência repousa e a alma floresce sem testemunhas.
Havia nos domingos uma espécie de claridade antiga, como se o universo respirasse diferente quando teu sorriso se aproximava do meu destino. Eram dias feitos de fios invisíveis: memórias que se desenrolavam como fitas ao vento, saudades impregnadas no ar, lembranças do teu cheiro que me visitava como um sagrado incenso, e teu abraço - abrigo que me devolvia o próprio nome.
Eu sorria quando você deixava cair no mundo aquele sussurro: “falta pouco.”
E, então, eu desejava que esse pouco fosse infinito, que transbordasse as margens do tempo, que se derramasse pelas nossas taças como um orvalho maduro, que transformasse cada fragmento do futuro em território fértil para os nossos sonhos.
Onde adormeceu, dentro de ti, aquele sonho em que éramos dois viajantes perdidos num lugar improvável?
Nossos domingos eram pequenas constelações, aventuras subterrâneas, em que nossos desejos se encontravam como rios que, mesmo distantes, pressentem o mesmo mar.
Eu não desejo tua partida; desejo teu voo.
Quero te entregar asas, não para que te vás de mim, mas para que te encontres contigo. Que subas ao mais alto dos teus céus, onde moram teus anseios, teus ímpetos, tuas flores ainda não nomeadas.
Quero que você vá… e que retorne com a pele iluminada pelo sol que só existe acima das nuvens mais difíceis.
Eu te deixo ir como quem solta um pássaro raro: com o peito apertado, mas cheio de beleza.
Porque o amor que ficou em mim não é prisão - é constelação.
E nele você sempre brilha, mesmo quando voa para longe.









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