Nossos dezoito anos SP

 Debutamos em São Paulo.




A cidade onde os sonhos, outrora infantis, tornaram-se carne, suor e coragem.

Atravessei fronteiras invisíveis: do Sul ao extremo Sul, do centro à sofisticação dos Jardins. Caminhei pela Paulista como quem percorre uma artéria viva, pulsante, que alimenta histórias e devora esperanças.


Entrei em templos corporativos, erguidos como catedrais modernas, onde vozes estrangeiras ecoavam promessas de um mundo sem fronteiras.

Conheci homens e mulheres de todas as cores, de todos os credos; rostos que vinham de terras longínquas, trazendo consigo idiomas que dançavam no ar.

Fiz carnaval, do bloco à vertigem do glitter, como quem celebra a própria existência em um abraço desmedido com a vida.

Assisti a shows que incendiaram memórias, vesti artistas que eram meus ídolos, e, sobretudo, vesti mulheres. Muitas. Centenas. Cada uma com sua pele, seu silêncio, seu universo inteiro costurado em um instante de confiança.

Vi minha empresa crescer como cresce um rio após a chuva; e vi-me, tantas vezes, perdida em suas correntezas.

Vieram dias escuros: quarenta deles, isolada entre quatro paredes, em uma kitnet onde apenas meus felinos sabiam do peso do meu corpo cansado. Sem minha rede de apoio, tudo seria sombra - como, às vezes, ainda é.

Dediquei-me a nutrir os que ficaram, doando-me inteira, até que de mim restasse apenas o que era possível permanecer.

Hoje carrego uma bagagem imensa, tecida pelas minhas próprias mãos, pelos meus erros e pela coragem obstinada de ser, a cada manhã, um pouco melhor do que ontem.

Que milagre é poder crescer, amadurecer, e aprender com a beleza e a brutalidade de tudo que escolhi viver.

Passar de fase é um rito imenso, quase indizível, um desafio que me atravessa como vento em noite alta.

Agora, tudo o que desejo é respirar.

Respirar devagar. Tomar sol.

Silenciar.

Fazer arte como quem se salva.

Estudar, mergulhar em livros que abram janelas para outros mundos.

Lua nova em virgem.

Comentários

Postagens mais visitadas