Cidade e psicanálise

 A obra de Jacques Lacan oferece uma visão profunda sobre o amor, especialmente no que diz respeito ao desejo, à imagem do outro e à formação do sujeito. Lacan, influenciado por Freud, refina a ideia de que o amor muitas vezes envolve um desejo insaciável e uma busca por algo inatingível. Aqui está uma reflexão lacaniana que se encaixa bem nesse contexto de amores vazios:


Lacan acredita que o amor está profundamente ligado ao desejo, e que o que chamamos de "amor" é, na verdade, uma tentativa de preencher o vazio do desejo não satisfeito. Ele nos alerta que, ao amarmos, muitas vezes estamos buscando no outro algo que não podemos alcançar: o que ele chama de "objeto a", o objeto de desejo que nunca é totalmente possuído.


"O amor é dar o que não se tem a alguém que não o quer."


Essa frase traz à tona uma ideia central de Lacan: o amor é, em parte, uma tentativa de dar o que não possuímos, de oferecer algo que nos falta. O outro se torna o receptáculo de um desejo insatisfeito, e não um parceiro pleno, que nos preenche. Esse desejo de "dar" o que não se tem é, paradoxalmente, o que nos deixa vazios, pois nunca conseguimos preencher o vazio interno com a presença do outro.


Lacan também sugere que o amor é uma forma de se confrontar com o nosso próprio eu, com a falta que carregamos. O amor nunca pode ser total ou definitivo, pois ele é sempre mediado pelo que o sujeito "não tem", o que nunca poderá ser completamente alcançado. Isso gera uma eterna sensação de falta, de incompletude, que muitas vezes se traduz em amores vazios ou insatisfatórios.


Para Lacan, o amor não é uma resposta a uma carência simples; é uma busca mais profunda que envolve a aceitação de nossa própria falta. Ao amar, procuramos não preencher uma lacuna com o outro, mas encontrar um caminho para lidar com essa ausência que é parte de quem somos. O amor genuíno, então, não é a busca de um outro que complete, mas o reconhecimento da falta que é constitutiva do ser humano.


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